Sinapsis — Um assistente pessoal para idosos com início de Alzheimer
Desenvolvi um projeto em UX / UI pela Ironhack São Paulo, no qual resolvi trabalhar com uma solução digital para idosos com início de demência, especificamente o Alzheimer.

Realizei duas frentes de pesquisas:
Na primeira, realizei um desk-research sobre esta deficiência cognitiva e entrevistei psiquiatras especialistas da área, que chamamos no UX de SME (Subject Matter Experts).
Na segunda frente fiz entrevistas quantitativas e qualitativas, onde procurei a entender como idosos se relacionam com a tecnologia e como os familiares e amigos cuidam à distância.
Desk Research
Fonte: Revista Brasileira de Neurologia » Volume 45 » N 25, 2009
O estudo do envelhecimento é pré-requisito importante na compreensão do desenvolvimento da disfunção intelectual e suas ligações comuns às degenerações orgânicas do cérebro, uma vez que ele é acompanhado do declínio de algumas funções cognitivas.
Cerca de 5% da população com mais de 65 anos até 80 anos de idade apresenta quadro demencial. Para o grupo etário com mais de 80 anos e até 85 anos, esse percentual situa-se entre 10% e 40% e cresce para mais de 47% em na faixa etária das idades superiores a 85 anos. O quadro cognitivo agrava-se sempre quando existem problemas emocionais e outros relacionados à alimentação, ao descondicionamento físico, ao uso inadequado de medicamentos.
Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP) da Universidade Federal Fluminense (UFF), desenvolveu e vem aplicando desde 1987 um método não medicamentoso que inclui no tratamento dos pacientes com presença de demência os seus familiares e cuidadores.
Terapia de orientação para a realidade
Heidegger (1962) define o homem como um ser temporal vivendo num mundo temporal e a temporalidade como o sentido do existir humano. A noção de tempo nasce de sua relação com as coisas, confundindo-se com a própria consciência. Os eventos são marcados a partir das noções sobre a espacialidade e temporalidade do mundo objetivo, por definição é atemporal.
Estimulação cognitiva
Os distúrbios cognitivos são ocorrências observadas após lesões cerebrais de diversos tipos, principalmente na demência. Para trabalhar o comprometimento das habilidades é importante observar a capacidade de adaptação como chave principal da sobrevivência, melhorar a qualidade de vida e o bem estar do paciente e acreditar que é possível reconstruir o que estiver alterado e compensar o que foi perdido utilizando o que estiver conservado.

Terapia de reminiscências
Até os anos 60 a técnica de reminiscências era considerada como fator desencadeante de estresse e angústia. Só em 1963, Robert N. Butler destacou a importância de o idoso realizar uma “revisão da vida”; é a técnica, considerada como ocorrência natural do ser humano. À lembrança do passado dá-se o nome de reminiscência simples, enquanto que reminiscência informativa é a que ocorre quando se conta uma história a respeito de eventos da sociedade como um todo. Reminiscências criam novos sentidos para o passado e permitem a vivência da continuidade do sujeito através do tempo. A terapia da reminiscência valoriza o paciente através do seu conhecimento a respeito do seu passado permitindo a conversação e orientação para o presente. A prática indica ênfase nos contrastes e nas similaridades entre o presente e o passado. Os profissionais não devem corrigir as histórias contadas pelos pacientes.
Entrevista com o Psiquiatra
Na minha entrevista com o psiquiatra recebi dicas valiosas de como ajudar a pessoa com demência e Alzheimer a lembrar de pessoas importantes do seu convívio social. Aprendi que estas pessoas têm dificuldades com fisionomias e se beneficiam de associações para criar mapas mentais alternativos. Estas associações devem ser ricas em informações que descrevem a pessoas, com características físicas e outros atributos que ajudam o idoso a identificar a pessoa sem ser apenas pelo nome e a imagem.
Pesquisa de usuários
Na minha pesquisa quantitativa com idosos e seus familiares pude observar que:
- 85% dos filhos e netos se comunicam à distância com os pais e avós idosos.
- 43% dos idosos sabem usar o celular e fazer vídeo-chamadas.
- 69% dos idosos vive com alguém.
- 35% dos filhos ou netos conseguem visitar os idoso pessoalmente.
Na minha pesquisa qualitativa por entrevistas constatei que muitos idosos encontram resistência com tecnologia, mas que eles se esforçam para poder se comunicar e enfrentar a solidão.
Os idosos que se consideram esquecidos, afirmaram que tem hábito de fazer anotações, mas não lembram onde anotaram na hora que precisam.
Com estes dados realizei algumas técnicas para organizar e agrupar os achados em categorias relevantes.

Para entender os ‘Pains and Gains’ dos idosos em também dos familiares que cuidam, criei um Mapa de Empatia:

Seguindo o processo de empatia e pesquisa de usuário criei duas personas


Declaração de Problema (Problem Statement)
Dona Edite precisa associar a fisionomia das pessoas à nomes, características físicas, cores, datas e lembranças para criar novos modelos mentais, que ajudarão manter a sua conexão com o mundo real e diminuir o estresse emocional das pessoas que convivem com ela.
HMW — Como podemos?
- Como podemos ajudar Dona Edite a criar novos modelo mentais?
- Como podemos diminuir o estresse emocional dos seus familiares e amigos?
- Como podemos ajudar dona Edite lembrar das pessoas?
Declaração de Hipótese
Acredito que fotos de pessoas próximas com informações semânticas ajudarão os indivíduos no estágio inicial de demência ou Alzheimer a criar novos modelos mentais, que os conectam ao mundo real. Esta conexão promoverá um maior grau de auto satisfação para a pessoa afetada e diminuirá o estresse emocional da pessoa que cuida.
Vou medir o sucesso através de da pontuação obtida em jogos que avaliam os acertos de associação.
Value proposition
Para validar uma proposta que une as necessidades do usuário e gerar uma proposta de valor comercial, criei um Value Proposition Canvas e analisei a possibilidade de trabalhar com um sistema Multi-Modal de Tela, Toque e Som para ajudar a Dona Edite de uma forma sútil e agradável.

A Proposta de Solução
Resolvi trabalhar com o Google Nest Hub e criar uma Google Assistant Action. A minha ideia é integrar um dispositivo no ambiente que a Dona Edite vive em um modo de porta-retrato com informações sobre as pessoas, criar um dashboard onde ela possa acessar informações relevantes, criar lembretes correlacionados e fazer vídeo chamadas. O dispositivo será administrado à distância pelos cuidadores e familiares, de modo que lembretes importantes seriam anunciados por voz e imagem em momentos específicos do dia, sem que a Dona Edite precise lembrar de procurar pela informação.
Google Nest Hub Max
- Tela grande de 10"
- Maturidade em reconhecimento de voz.
- Maior liberdade na criação e Actions Multimodais em comparação com a Alexa da Amazon.


Logotipo da Google Assistant Action
As letras do logotipo, apesar das lacunas, não dificultam a leitura pelo conceito de continuação da Gestalt. A ideia do logo simboliza os mapas mentais alternativos que possibilitam a conexão das sinapses, mesmo com a degeneração de alguns neurônios.

Telas e micro-interações


Design System


Fluxo Conversacional

Apresentação do Protótipo
Próximos Passos
- Criar tela que avalia como o idoso está se sentindo.
- Melhorar visualização do dashboard.
- Criar interface administrativa para o cuidador ou familiar.
- Avisar o cuidador quando uma ação não foi tomada.
- Mais testes de usabilidade.
Teste do Protótipo
O protótipo com comandos de voz pode ser testado aqui!
Todo feedback será muito bem vindo. Obrigado pelo seu interesse nesse projeto.